Além da suspeita de direcionamento do certame, sindicato teme que desvalorização do produto nacional gere recessão e demissões nas empresas brasileiras que beneficiam o grão
A compra de arroz importado pelo Governo Federal – realizada por meio de leilão nesta quinta-feira, dia 6, pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) – causará danos irreparáveis às indústrias de arroz do Brasil.
::: Saiba mais :::
Após derrubar liminar, governo compra 263 mil toneladas de arroz em leilão nesta quinta
Assim como também pensam outras entidades do setor, essa é a avaliação do Sindicato das Indústrias de Arroz de Santa Catarina (SindArroz-SC), que para além da suspeita de direcionamento do certame, teme que a situação resultará em ainda mais desvalorização do produto nacional, desestimulando produtores a continuarem cultivando o grão, gerando recessão nas empresas brasileiras que o beneficiam e, por consequência, demissões em massa.
O arremate de 263 mil toneladas de arroz no leilão desta quinta-feira levantou inúmeras suspeitas entre a cadeia produtiva, uma vez que nenhuma das empresas participantes é tradicional do ramo de arroz, pelo contrário, em sua maioria são registradas como atuantes em áreas extremamente diferentes, como locação de veículos e máquinas, produção de queijo e importação de frutas.
“As quatro empresas que entraram no leilão não comercializam arroz normalmente, o que nos gera suspeitas de uma grande possibilidade de direcionamento. Além disso, com a entrada no mercado nacional desses mais de 8,7 milhões de fardos de arroz importados, temos a certeza de que muitas indústrias brasileiras provavelmente precisarão paralisar suas atividades e demitir colaboradores, sem contar que os próprios produtores de arroz estão desestimulados a continuar plantando”, avalia o presidente do SindArroz-SC, Walmir Rampinelli.
Para Rampinelli, preocupa o fato de o governo federal não ser o primeiro a valorizar o produto nacional em um momento tão crítico e preferir ficar na dependência do arroz asiático. “É inadmissível importar o arroz já beneficiado e empacotado para distribuir no país, com tantas indústrias daqui paradas e tendo que demitir funcionários. De forma geral, vai ser uma tragédia agrícola para o setor do arroz, principalmente porque a produção nacional seria mais do que suficiente para abastecer a população. O governo usou de uma infantilidade para destruir o agro brasileiro mais uma vez”, completa o presidente do SindArroz-SC.
Juntos, o Rio Grande do Sul e Santa Catarina são responsáveis por mais de 80% da produção de arroz do Brasil e inúmeras indústrias e cooperativas catarinenses possuem unidades de produção em solo gaúcho e/ou utilizam o grão cultivado pelos riograndenses para beneficiamento em unidades de SC.
O SindArroz-SC garante que seguirá apoiando as entidades gaúchas na busca pela invalidação dos efeitos do leilão já realizado, bem como pela suspensão dos possíveis leilões seguintes, haja vista que ainda há possibilidade de importação de mais 700 mil toneladas, uma vez que a Medida Provisória nº 1.217/2024, publicada pelo Governo Federal, autorizou a Conab a importar até um milhão de toneladas de arroz em 2024.