Com mais de 80% da produção destinada aos EUA, setor apícola de SC teme prejuízos duradouros.
As tarifas impostas pelos Estados Unidos à importação de produtos brasileiros já geram impactos diretos no setor de mel em Santa Catarina. Empresas catarinenses, que tradicionalmente abastecem o mercado norte-americano, enfrentam embarques cancelados, queda nos preços e risco de paralisação das atividades.
Um dos casos mais críticos é o da empresa Apis Nativa, localizada em Araranguá, reconhecida internacionalmente pela qualidade do seu mel. A marca conquistou medalha de ouro no Paris International Honey Awards 2025, mas, mesmo com o prestígio, não escapou dos efeitos das medidas tarifárias.
Segundo o diretor da empresa, Tarciano Santos da Silva, 17 contêineres de mel estão retidos. Desses, cinco tiveram os envios suspensos por tempo indeterminado. Além disso, outros 20 reservatórios, prontos para exportação, deixaram de ser carregados. A situação levou a empresa a prever uma paralisação total da produção em até três semanas, caso o cenário não mude.
O impacto também é financeiro. O quilo do mel, que antes era vendido a R$ 3,70, sofreu desvalorização e passou a ser negociado por R$ 3,30. Com mais de 80% da produção catarinense destinada ao mercado dos Estados Unidos, as novas tarifas tornam as exportações menos competitivas, prejudicando todo o setor.
Outras empresas da região também sentem os reflexos da medida. Em Içara, por exemplo, o produtor Guilherme Castagna afirma que precisou renegociar contratos para tentar manter as exportações em funcionamento.
De acordo com dados da ABEMEL (Associação Brasileira dos Exportadores de Mel), 76% do mel brasileiro exportado nos últimos cinco anos teve como destino os Estados Unidos. Essa dependência do mercado americano torna o setor altamente vulnerável a decisões políticas e comerciais externas.
Além da queda imediata na receita, o temor é que produtores catarinenses percam espaço no mercado internacional para concorrentes de outros países, o que pode trazer consequências duradouras para o setor apícola nacional.
Diante da instabilidade, empresas começam a considerar alternativas para escoar a produção. A prospecção de novos mercados, especialmente na Europa e Ásia, surge como uma possibilidade para reduzir a dependência dos EUA. No entanto, essa transição exige tempo, adaptação logística e investimentos em certificações exigidas por cada país.