Às vésperas da Festa da Melancia, produtores seguem a colheita da fruta nas lavouras do município, apesar das estimativas de perda após as chuvas
Conhecida por sua qualidade e sabor doce, a melancia produzida em Jaguaruna é responsável pelo sustento de centenas de famílias e rendeu ao município o título de Capital Catarinense do Produtor de Melancia. Também é por meio da produção dessa fruta que moradores e turistas passaram a se reunir anualmente em janeiro para a Festa da Melancia.
Após a primeira edição, realizada em janeiro de 2023, o evento passou a fazer parte do calendário oficial do Estado de Santa Catarina e deve reunir milhares de pessoas novamente, agora na segunda edição, que inicia nesta sexta-feira, dia 12.
O título e as comemorações são resultados do que realmente acontece em dezenas de hectares de terra espalhados pelo município e que mantêm a produção da fruta. Homens como Jucemar Cardoso Ramos, de 56 anos, conhecido como Gaúcho da Melancia, são os responsáveis pela produção de cerca de 15 mil toneladas da fruta por safra na cidade.
Jucemar sustenta sua família há 15 anos com a produção de melancia. Natural de Torres, deu continuidade à tradição de seu avô no cultivo e todos os anos se dedica à plantação. Em terrenos alternados, ele mantém as lavouras, que produzem cerca de 40 toneladas no total.
Há quatro anos conta com o auxílio de Amarildo da Rosa Gomes, que desde a infância aprendeu as técnicas que garantem o sabor especial da melancia comercializada nos mercados da região e até em outros Estados. Outros produtores também auxiliam Jucemar e Amarildo e recebem a renda no final da safra, que gera o sustento de seus familiares e movimenta a economia local.
Para eles, o solo arenoso e a alternância de clima em Jaguaruna são propícios para tornar a melancia mais adocicada e com maior qualidade. “Nossa melancia é a melhor do Brasil. Aqui temos um solo mais arenoso, noites frias e dias quentes e outros elementos que deixam a fruta bem açucarada e mais firme, de boa qualidade e desejada no mercado”, explica Jucemar.
Após as chuvas, safra terá queda de cerca de 30%
Os produtores terão sérios prejuízos neste ano após as fortes chuvas que atingiram a região em 2023. Aqueles que iniciaram a plantação entre agosto e setembro do ano passado perderam grande parte da produção. Alguns chegaram a perder a lavoura inteira.
Jucemar e Amarildo contam que este foi um dos piores anos para os agricultores. “Tivemos problemas de terrenos que ficaram alagados e resultaram em perdas. O sabor da fruta também ficou comprometido na primeira remessa plantada entre agosto e setembro. Choveu cerca de 600 milímetros em dois meses, e depois veio um período de seca de 24 dias sem uma gota d’água. Esse foi o pior ano de chuva”, comentam.
Os agricultores enfatizam que, apesar da perda de produção, o preço subiu com a alta demanda. Já para o consumidor a compra da fruta doce vai ficar mais salgada para o bolso. “O preço da melancia subiu mais de 100% nos mercados. Está mais caro para os clientes”, dizem.
O engenheiro agrônomo da Epagri de Jaguaruna, Emerson Evald, estima que, após as chuvas, a safra deste ano pode ficar abaixo de 10 mil toneladas, o que representa uma redução entre 30 e 40%, impactando assim a economia local.
“A safra da melancia que iniciou em 2023 e adentra 2024 teve grandes dificuldades em seu estabelecimento, principalmente, entre outubro e novembro com o excesso de chuva. Os produtores tiveram grandes prejuízos. Será um ano de pouca fruta. Alguns tiveram mais de 50% de perda nas lavouras. Em Jaguaruna, as perdas ficam entre 30% e 40%.”
Evald ainda destaca que, neste mês de janeiro, aqueles que conseguiram seguir o cultivo já estão em fase de colheita, e graças à melhora do tempo e temperaturas mais altas, a fruta está vindo com boa qualidade, ainda que com uma quantidade menor, o que eleva os preços nos mercados.
“O cultivo da melancia é a minha paixão”
O cultivo da melancia é uma tradição e opção de renda há anos para jovens produtores como Wellinton Gislon Pacheco, de 26 anos. Desde a infância ele acompanha o pai na plantação da fruta e até hoje se dedica a este trabalho.
Wellinton se especializou em técnico em agropecuária, ingressou na faculdade de Direito, formou-se e já atua na profissão, mas quando inicia a safra da melancia, ele troca os papéis e o computador pelo trator e trabalha dias seguidos na lavoura.
“Minha história com a melancia começou desde que me conheço por gente. Aos 14 anos fui morar em Santa Rosa do Sul, onde fiz o técnico em agropecuária, voltei, consegui uma bolsa na faculdade de Direito, tenho OAB, advogo, mas minha paixão mesmo é a lavoura. Ver o trator na roça, fazer as negociações, essa rotina toda é a minha maior paixão. Quando chega a safra, me dedico à produção”, conta o jovem, que é responsável pelo cultivo de cerca de 10 hectares em parceria com seu colega Julio Marques.
Eles acompanharam as previsões de chuva e escolheram uma área mais drenada e elevada para plantar. Com isso conseguiram garantir uma colheita de boa qualidade.
Quando termina a safra, a família de Wellinton inicia a produção de mandioca e investe na pecuária, com cria e recria de gado.
“Entrei na parceria com o Julio. São 10 hectares, e plantamos mais cedo em 3 hectares perto da praia, mas tivemos quase que perda total por causa da chuva. Estávamos acompanhando a previsão. Na área maior deu uma produção boa, pois plantamos mais tarde e, por ser um terreno mais drenado, não houve áreas alagadas e não prejudicou a qualidade da fruta”, explica.
Furtos constantes
Os produtores relatam que, além das chuvas, um dos problemas que ocasionam mias prejuízos são os furtos. Moradores e turistas passam pelas lavouras e furtam as frutas durante a alta temporada, causando alguns transtornos. “Infelizmente sempre que plantamos na beira da estrada é esse transtorno. Aí pego a placa e faço boletim de ocorrência, mas nada acontece por ser furto de bagatela. São pessoas de todo tipo de classe social que param seus veículos e levam nossas frutas”, lamentam os produtores.
2ª Festa da Melancia inicia nesta sexta-feira
Para homenagear os produtores e fomentar o turismo de verão, inicia nesta sexta-feira, dia 12, a segunda edição da Festa da Melancia com ampla programação. O evento segue até domingo, dia 14, no Thermal Beach Park, no Balneário Arroio Corrente, em Jaguaruna.
Um dos grandes destaques da programação deste ano será o show nacional com a dupla João Neto e Frederico. Há ainda a banda Dazaranha, que também marca presença, e outros shows regionais.
A Festa da Melancia não se resume apenas à música. O evento contará com diversas atrações. “Teremos um espaço amplo para expositores, além de uma praça de alimentação muito diversificada. A melancia, que é a fruta símbolo do evento, será lembrada em diferentes formas e sabores por meio do cardápio”, conta o prefeito Laerte Silva.
A programação inicia nesta sexta-feira, dia 12, às 10h, com a abertura do parque de exposições. A partir das 15h tem o concurso com a escolha da Miss Melhor Idade de Jaguaruna. Após o desfile das candidatas, a festa continua com o baile da terceira idade com a banda Sanfona Mix.
A partir das 19h iniciam os shows, com Green Beer, 21h tem Bondi Balanço e às 22h ocorre a abertura oficial com a presença de autoridades. Após a solenidade, por volta das 22h30, tem show com Léo e Bruno e à meia-noite o show nacional com a dupla João Neto e Frederico.
No sábado, dia 13, a partir das 10h, o parque de exposições recebe a exposição dos carros antigos com o grupo Clássicos da Jagua. Em seguida, às 11h, começa o show com Muskaria Wizard. A festa também terá opção de almoço com pratos típicos na praça de alimentação.
A animação segue no período da tarde, às 13h, com show com a banda O Índio e tarde cultural. Haverá stands com exposição de artistas locais, produtos coloniais e cardápio à base da melancia, além da fruta in natura, comercializada pelos produtores locais.
A programação encerra no domingo, dia 14. O parque de exposições abre às 9h ao público e a partir das 10h30 tem show com Bonde do Som. Às 11h30 ocorre o encontro dos produtores, com apoio da Epagri, que auxilia na organização do evento.
Após o almoço, tem show com Sabiá dos Teclados, e às 13h haverá as olimpíadas rurais. A festa termina com mais shows, com Ricardo Chimas Trio, às 15h, show com banda Caiçara às 17h, 18h30 show com Raquel Conceição e às 20h show com Dazaranha.