Segundo John Feeley, ex-embaixador dos EUA, a mudança de postura americana reflete a percepção de Trump sobre Bolsonaro e não a atuação do governo Lula
Foto: Divulgação O recuo dos Estados Unidos nas ações tomadas contra o Brasil e autoridades do Judiciário brasileiro tem mais relação com o comportamento errático do ex-presidente Donald Trump e a mudança de percepção sobre Jair Bolsonaro do que com negociações do governo Lula, afirma John Feeley, ex-embaixador dos EUA no Panamá.
Feeley, considerado especialista em América Latina pelo Departamento de Estado americano, deixou o governo em 2018 e atualmente dirige o Centro para a Integridade da Mídia das Américas (CMIA).
Em julho, os EUA impuseram tarifas de 40% sobre produtos agrícolas brasileiros e sancionaram o ministro do STF Alexandre de Moraes e sua esposa pela Lei Magnitsky, que pune violação de direitos humanos. O objetivo aparente era pressionar o julgamento de Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.
No entanto, em novembro, Trump suspendeu as tarifas e retirou os nomes de Moraes da lista de sanções. Para Feeley, essas mudanças refletem decisões pessoais e imprevisíveis de Trump, e não uma vitória estratégica do Brasil.
O ex-embaixador aponta que a reação inicial dos EUA foi motivada pelo lobby de Eduardo Bolsonaro em Washington. “Trump pode ser manipulado por assessores que conseguem chegar a figuras importantes dentro do governo”, explicou Feeley.
Com a prisão de Bolsonaro, Trump passou a ver o ex-presidente como um “perdedor”, termo que Feeley define como central para entender o recuo: Trump “não tolera perdedores”.
Segundo Feeley, Trump é narcisista, imprevisível e economicamente desinformado, tornando negociações com ele arriscadas. “Lula, francamente, teve sorte”, disse, sugerindo que líderes internacionais devem manter distância da órbita direta de Trump e focar nas relações institucionais.
Feeley também comentou o bloqueio de navios-petroleiros sancionados pelos EUA na Venezuela. Ele considera que essas medidas são mais eficazes para pressionar Nicolás Maduro do que operações anteriores e alerta que os efeitos negativos sobre a população são secundários.
Além disso, descarta a possibilidade de escalada militar americana na região, afirmando que intervenções seriam limitadas e que não há indícios de invasão terrestre.
O diplomata vê o Brasil como exemplo de democracia funcional, capaz de impor limites constitucionais ao Executivo. Segundo ele, a experiência brasileira pode servir como referência para o público americano sobre a importância de instituições independentes e equilíbrio de poderes.
Feeley também considera improvável que Lula se torne mediador entre Maduro e políticos americanos, mas destaca que o foco do Brasil deve ser fortalecer relações internas e comerciais, mantendo o país como referência democrática e econômica na região.
Fonte: BBC