Pesquisa nacional mostra que 15,8% dos brasileiros com 14 anos ou mais já consumiram cannabis ao menos uma vez na vida.
Foto: jcomp O consumo de maconha no Brasil mais que dobrou nas últimas duas décadas, segundo dados inéditos do terceiro Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad III), divulgados nesta sexta-feira. A pesquisa mostra que 15,8% dos brasileiros com 14 anos ou mais já experimentaram cannabis, o equivalente a um em cada sete brasileiros.
Em 2012, esse percentual era de 6,2%, o que representa um crescimento de 142% até 2023 — o maior aumento entre todas as drogas ilícitas analisadas no estudo.
O Lenad III foi realizado pela Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad) da Unifesp, em parceria com a Ipsos, e financiado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. Ao todo, 16.608 pessoas com 14 anos ou mais foram entrevistadas em 349 municípios, abrangendo todas as regiões do Brasil.
Entre 2012 e 2023, a experimentação de outras substâncias também aumentou, mas em ritmo menor do que o da maconha:
Cocaína: de 3,88% para 5,38%
Alucinógenos: de 1,04% para 2,08%
Estimulantes sintéticos: de 2,68% para 4,58%
Por outro lado, o uso de heroína permaneceu praticamente estável (0,18% para 0,19%), enquanto a experimentação de crack apresentou leve queda, de 1,44% para 1,39%.
Além da experimentação, o consumo habitual de maconha também avançou de forma expressiva. Em 2023, 6% dos brasileiros relataram uso da droga nos últimos 12 meses, o equivalente a cerca de 10 milhões de pessoas. Em 2012, esse índice era de 2,8%.
Mais da metade dos usuários (54,2%) afirmou ter consumido cannabis diariamente por pelo menos duas semanas consecutivas. Na população total, isso representa 3,3% dos brasileiros, cerca de 3,9 milhões de pessoas.
O levantamento aponta que o consumo de maconha é mais comum entre os jovens de 18 a 24 anos. Nesse grupo:
23,3% já experimentaram a substância
13,2% relataram uso habitual
A idade média de início é de 18 anos, e quase metade dos usuários começou antes da maioridade.
Entre adolescentes de 14 a 17 anos, 6,2% afirmaram já ter usado maconha alguma vez na vida, e 3,4% relataram consumo habitual — índices semelhantes aos observados em 2012.
Consumo cresce entre mulheres e pessoas com maior renda e escolaridade
A pesquisa mostra diferenças importantes por gênero. Enquanto o uso caiu entre meninos adolescentes, houve aumento expressivo entre meninas:
Experimentação: de 2,1% para 7,9%
Uso habitual: de 1,3% para 4,6%
Entre adultos, a experimentação passou de 6,3% para 15,8%, com crescimento tanto entre homens quanto entre mulheres. Já o consumo habitual caiu levemente entre homens e triplicou entre mulheres, de 0,7% para 2,1%.
O estudo também indica que o uso aumenta conforme escolaridade e renda. A experimentação sobe de 5,2% entre pessoas sem escolarização para 19,1% entre quem tem ensino superior, e de 11,4% entre quem ganha até um salário mínimo para 18,3% entre os que recebem três ou mais.
Considerando apenas a população adulta, as maiores taxas de uso de maconha no último ano estão nas regiões:
Sudeste: 7%
Sul: 6,9%
Centro-Oeste: 6,6%
Já Norte (3,1%) e Nordeste (5,2%) apresentam índices mais baixos.
Apesar do aumento no consumo, a prevalência de transtorno por uso de cannabis se manteve estável entre 2012 e 2023, atingindo 1,24% da população, cerca de 2 milhões de brasileiros. No entanto, entre os usuários avaliados, um terço apresentou critérios compatíveis com o transtorno.
Brasil ocupa posição intermediária no cenário internacional
Segundo os autores do Lenad III, o Brasil ocupa uma posição intermediária no cenário global:
“As estimativas brasileiras de uso recente de cannabis são mais baixas do que as observadas em países com mercados regulados, como Canadá e Estados Unidos, mas superiores às de muitos países latino-americanos”.