Após o corte feito pelas equipes do ICMBio, madeiras permaneceram espalhadas no local. Moradores questionam ação; órgão explica projeto realizado desde 2022 em regiões da APA da Baleia Franca
“Simplesmente vieram aqui e cortaram as árvores. Nossa preocupação é que essas árvores acabavam segurando as dunas e isso pode ser um problema. Queremos explicações”, relata o morador Kleber Viana após equipes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) realizarem uma operação de cortes de árvores da espécie Casuarina Equisetifolia no Balneário Cascata Vermelha, em Jaguaruna.
Após o corte, as madeiras foram deixadas no local, o que também gerou questionamento da comunidade.
A situação foi destacada durante a última sessão da Câmara Municipal pelo vereador Gilmar da Rosa. O vereador solicitou a presença de representantes do instituto para trazerem esclarecimentos sobre os cortes de árvores.
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“Percebemos uma falta de comunicação do ICMBio com o município e comunidade. A convocação é para que eles venham explicar qual o plano de manejo e o que eles têm de projeto. Outra preocupação é que, quando o município faz uma poda, ele precisa dar a destinação correta para aquela árvore. Já o ICMBio deixou lá jogada e ainda pediu que a comunidade fizesse a limpeza do local”, comentou o vereador.
Árvore exótica invasora do sudeste asiático
A reportagem da Folha Regional questionou o instituto sobre a ação. O analista ambiental do ICMBio Stéphano Diniz Ridolfi, chefe da APA da Baleia Franca, explica que a casuarina é uma árvore exótica invasora do sudeste asiático, que se adaptou bem às dunas e restingas e vem se espalhando rapidamente por todo o litoral catarinense, principalmente ao sul da Área de Proteção Ambiental (APA) da Baleia Franca.
Conforme o analista, apesar de oferecer uma “sombrinha boa” à beira da praia ou ao longo da costa catarinense, a dispersão da espécie e o seu sombreamento estão causando a perda de habitat de espécies nativas, como a espécie endêmica Butia catarinensis, que só ocorre no litoral sul. “Nossas equipes vêm desde 2022 reunindo esforços para promover a prevenção, erradicação, controle e monitoramento das casuarinas a fim de recuperar a biodiversidade local”, comenta.
Corte e descarte das casuarinas
O analista ambiental do ICMBio explica que as casuarinas se adaptaram na região e acabam predominando sobre as espécies nativas. Para garantir a preservação, o órgão conta com a Coordenação de Manejo de Espécies Exóticas Invasoras (CMEEI/ICMBio), que faz o combate às casuarinas através de projetos de cortes.
“Essa ação de cortes de árvores está sendo feita desde o início do ano em cidades em APA, como Imbituba e Garopaba, e agora avançou para o sul, alcançando Laguna, Jaguaruna e Balneário Rincão”, diz.
Conforme o analista, os cortes estão sendo feitos com as devidas autorizações ambientais e em conversa com as comunidades para orientações e educação ambiental.
As madeiras das árvores ficam no local e são disponibilizadas para uso dos próprios moradores, sem fins comerciais. “Geralmente é cortada e deixada a madeira. Esse é o indicado. A lenha é deixada ou usada para recuperação de trilhas, como foi feito na Praia do Rosa, em áreas de erosões.”
Conselho Gestor da APA da Baleia Franca
Stéphano Diniz Ridolfi afirma que o corte das árvores no balneário de Jaguaruna foi feito após reunião do Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental (APA) da Baleia Franca, quando um dos conselheiros representantes de Jaguaruna solicitou a ação para a preservação das espécies nativas.
“Fomos atender uma demanda apresentada pelo representante da comunidade. A vegetação de restinga tem um potencial natural de regeneração, o que não agride o solo. Esse mesmo projeto também inclui a plantação de árvores nativas, como araçá e aroeira. Levamos as mudas para a plantação”, conta.
A previsão do ICMBio é de que o projeto de cortes de espécies invasoras siga até o fim do ano em balneários de Laguna, Jaguaruna e Balneário Rincão. “Entendemos a preocupação da comunidade. Até o momento não recebemos nenhuma solicitação da Câmara de Vereadores, mas estamos à disposição para fazer os devidos esclarecimentos”, diz Ridolfi.