Maristela da Silva Francisco é a única mulher que colocou o nome à disposição para concorrer à prefeitura de Tubarão
Na série de entrevistas com pré-candidatos a prefeito da região da Amurel, a entrevistada da semana é Maristela da Silva Francisco (PT), pré-candidata em Tubarão.
Formada em Filosofia, mestra em Ciências da Linguagem e doutoranda em Ciências da Linguagem, Maristela é natural de Lages. Ela iniciou a carreira na educação e em seguida ingressou na Polícia Civil, em 1993. Em Tubarão, atuou como agente de polícia a partir de 1995.
Uma das mais antigas filiadas ao Partido dos Trabalhadores no município, Maristela nunca concorreu a um cargo eletivo. É coordenadora estadual da Setorial de Segurança Pública do PT e conselheira de ética do Plena Coletivo Feminista da Amurel.
Neste sábado, dia 20, a Federação Brasil da Esperança (PT/PCdoB/PV) de Tubarão homologará a chapa com Maristela Francisco como pré-candidata a prefeita e como pré-candidato a vice-prefeito o Professor Paulão (PT).
Folha Regional: O seu nome é uma das grandes novidades desta eleição, já que havia expectativa pela indicação do nome de Olavio Falchetti. Como surgiu o convite? Você já tinha esse projeto de se candidatar ao Executivo?
Maristela: Essa pré-candidatura foi construída no Coletivo de Mulheres do PT de Tubarão, que é muito forte. Nós já vínhamos há mais de ano num trabalho de formação e cogitaram o meu nome. Não tinha pretensão de concorrer a nenhum cargo político. Atuei por 29 anos como policial civil em Tubarão e me orgulho de ter feito minha carreira com afinco e honestidade. Como militante do PT desde 1987, percebi as necessidades da população e, com a negativa do Olavio, decidi colocar meu nome à disposição e o partido homologou, inclusive o Olavio. É preciso que a população local entenda que é possível fazer uma outra política, uma política que seja séria, sem compromissos de jogos de poder.
Folha Regional: O fato de ser um nome novo facilita o contato com os eleitores? Já sentiu algum preconceito por ser mulher em um ambiente ainda muito masculino como a política?
Maristela: O fato de ser uma novidade traz a curiosidade porque o ser humano é curioso com aquilo que ele não conhece. A população de Tubarão é majoritariamente de mulheres, porém, apesar de sermos maioria, continuamos como minoria nos espaços de poder. Eu venho de uma história na Polícia Civil de quase 31 anos de carreira, em um meio eminentemente masculino. Então já passei muito trabalho para que se entendesse que uma mulher pode ser uma excelente policial. Por outro lado, tenho uma coisa que é preciosa em todo ser humano, que se chama cérebro, que toda mulher tem. E nós sabemos usar, e dá para fazer trabalho policial de qualidade, dá para estar na política com qualidade. Uma coisa que me deixa contrariada é achar que nós, mulheres, devemos ocupar espaços na política, porque é ‘fofo’ ter mulher na política. Bom, vamos ser igualitários e deixar as mulheres participarem.
Folha Regional: Em uma região conservadora e mais alinhada à direita, sente alguma resistência em ser pré-candidata pelo PT? Como lidar como esse eleitorado mais conservador?
Maristela: Vou lidar com o eleitorado conservador como lido com todos os seres humanos na minha vida. A maioria massiva das pessoas não sabe por que é da direita ou da esquerda. Falam em preservação dos valores Deus, pátria, família e liberdade. Bom, eu sou aliada à esquerda, e também preservo os mesmos valores. Sou policial, gosto de arma e de atirar, sou cristã alinhada ao movimento das igrejas evangélicas, mas sou de esquerda. O que define para mim a relação com as pessoas é o tanto que estão interessadas em mudar o município. Precisamos conversar com a sociedade como um todo.
Folha Regional: O fato de o governo ser do PL, ou seja, em lado oposto ao PT, pode prejudicar um eventual governo do PT?
Maristela: O governador precisa governar para todo o Estado, independente de partido e Tubarão faz parte do Estado. Apesar de sermos de partidos diferentes, tenho amizade com a vice-governadora. A delegada Marilisa Boehm (PL) foi minha primeira chefe na Polícia Civil, trabalhamos juntas na delegacia. Além disso, também temos acesso ao governo federal. Sou membro da coordenação nacional da Setorial da Segurança Pública do PT, e sou da coordenação da Setorial Estadual da Segurança Pública também. Então acredito que temos uma boa relação com os governos e isso não seria um empecilho.
Folha Regional: Há conversas com outros partidos fora da Federação? Há possibilidade de coligação com quais?
Maristela: Sim, além da Federação Brasil da Esperança (PT/PCdoB/PV) de Tubarão, iniciamos tratativas com o PDT e PSB. Temos um grupo de outros partidos dentro de Tubarão que pretendem se alinhar na campanha política. Nossa convenção está marcada para sábado, dia 20, para homologar as pré-candidaturas e dar continuidade nesse debate democrático.
Folha Regional: Como partido de esquerda, o PT geralmente prioriza questões sociais. Na sua visão, qual o maior gargalo nesse setor em Tubarão e como resolver?
Maristela: Nós temos duas coisas muito sérias em Tubarão para tratar que é saúde pública e educação pública. Na educação é necessário garantir transporte de qualidade, ter escola funcionando em período de férias, ter merenda, e ter condições de fazer as aulas acontecerem. São questões básicas que podem virar sérios problemas. A saúde pública é a mesma novela. As estruturas são precárias e as equipes são pequenas. É preciso valorizar os trabalhadores, desafogar o Hospital Nossa Senhora da Conceição e fazer de uma vez por todas acontecer a UPA.
Folha Regional: Como vê as recentes operações na cidade e como evitar que esses casos se repitam, mesmo que não tenha havido ainda o julgamento dos réus?
Maristela: Tudo o que aconteceu de fato travou o município e colocaram um prefeito e vice da turma que já estava antes para seguir com um mandato tampão. Mas vejo que a Operação Mensageiro foi algo necessário para ter esse combate à corrupção. E quero aproveitar para destacar o trabalho policial, que contou com a presença de várias instituições como Civil, Militar, Penal, Científica, Gaeco, e vários grupos especializados em combate ao crime organizado e à corrupção. Tenho muito orgulho de fazer parte desse segmento do serviço público. E penso que temos que fazer uma faxina na máquina pública, olhar como é que as coisas estão sendo feitas, como estão gerenciando os recursos do município a ponto de que se evite esses ‘buracos’. Para que as coisas funcionem temos que ser linha dura e manter a honestidade.
Folha Regional: A gestão anterior contraiu dois financiamentos do Finisa que devem levar cerca de 10 anos para quitação. Como vê essa questão?
Maristela: Nós temos essa dívida herdada, que vamos ter que resolver, porque o município não pode ficar inadimplente. O próximo gestor terá que fazer a administração do dinheiro do município com rigor e pé no chão. A máquina pública tem que ser toda revisada. E não adianta vir com papo demagógico de enxugar a máquina, realmente terá que fazer um amplo diagnóstico.
Folha Regional: Um dos temas mais debatidos em Tubarão é a redragagem do Rio Tubarão. De que forma pretende atuar nessa área?
Maristela: A ideia seria unir as forças do governo estadual, federal, lideranças da região por onde passa o rio e buscar recursos. Seguir as ações com planejamento. As pessoas não planejam as coisas, e daí o dinheiro vai fora. É necessário mapear os problemas e buscar soluções.