O diretor artístico do espetáculo, Thomas Jolly, negou que a sua intenção, ao recriar a cena, foi de provocar e fala em celebração da diversidade
A conferência dos bispos da Igreja Católica Francesa e líderes religiosos espalhados pelo mundo protestaram neste sábado, dia 27, contra uma encenação associada à Santa Ceia, que fez parte do roteiro de atrações da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris.
Para a entidade francesa, o retrato bíblico de Jesus Cristo com os seus apóstolos recriado pelos organizadores da festa foi um "escárnio" e uma "zombaria com o Cristianismo". Ainda disse lamentar por "todos os cristãos" que foram "feridos pela ofensa e provocação de certas cenas".
"Nossos pensamentos estão com todos os cristãos de todos os continentes que foram feridos pela ofensa e provocação de certas cenas", disse o coletivo de bispos, em nota. "Esperamos que eles entendam que a celebração olímpica se estende muito além das preferências ideológicas de alguns artistas", acrescentou.
A conta oficial das Olimpíadas no X (ex-Twitter) descreveu parte da cena como representando "o deus grego Dionísio" conscientizando as pessoas "do absurdo da violência entre seres humanos".
Os religiosos, porém, interpretaram que a adaptação como uma zombaria da famosa pintura de Leonardo da Vinci.
Organizadores dos Jogos Olímpicos pedem desculpas
Os organizadores dos Jogos Olímpicos de Paris pediram desculpas neste domingo, dia 28, para quem se sentiu ofendido pela cena que evocou A Última Ceia, de Leonardo da Vinci, durante a glamorosa cerimônia de abertura.
A pintura de Da Vinci representa o momento em que Jesus Cristo declarou que um apóstolo o trairia. A cena durante a cerimônia de sexta-feira apresentou a DJ e produtora Barbara Butch, um ícone LGBTQ+, flanqueada por artistas drag e bailarinos. A porta-voz de Paris 2024, Anne Descamps, foi questionada sobre os protestos durante uma coletiva de imprensa do Comitê Olímpico Internacional neste domingo.
“Claramente, nunca houve a intenção de demonstrar falta de respeito a qualquer grupo religioso. Ao contrário, creio que (com) Thomas Jolly, realmente tentamos celebrar a tolerância comunitária”, disse Descamps. “Ao observar o resultado das pesquisas, acreditamos que esse objetivo foi alcançado. Se as pessoas se sentiram ofendidas, claro, lamentamos muito, muito”, ela disse.
O diretor artístico do espetáculo, Thomas Jolly, negou que a sua intenção, ao recriar a cena, foi de provocar e fala em celebração da diversidade. "Meu desejo não é ser subversivo, nem zombar ou chocar," disse Jolly. "Acima de tudo, eu queria enviar uma mensagem de amor; de inclusão e não de divisão."
Protestos pelo mundo
Outros líderes religiosos também endossaram as críticas e reclamações da Conferência dos Bispos da Igreja Católica Francesa, segundo a agência de notícia CNA (Catholic News Agency).
O bispo Andrew Cozzens, presidente do Comitê Episcopal dos Estados Unidos para Evangelização e Catequese, publicou declaração pedindo aos católicos "que respondam ao incidente de Paris com oração e jejum".
"Jesus viveu sua Paixão novamente na sexta-feira à noite em Paris, quando sua Última Ceia foi publicamente difamada", disse Cozzens. "Não ficaremos de lado e ficaremos quietos enquanto o mundo zomba de nosso maior presente do Senhor Jesus", escreveu o bispo.
"Em vez disso, por meio de nossa oração e jejum, pediremos ao Espírito Santo que nos fortaleça com a virtude da fortaleza para que possamos pregar Cristo - nosso Senhor e Salvador, verdadeiramente presente na Eucaristia - para a Glória de Deus e a Salvação das Almas."
O bispo alemão Stefan Oster chamou a cena da "Última Ceia queer" de "um ponto baixo e completamente supérfluo na encenação", em publicação da Conferência Episcopal Alemã, segundo a CNA. O arcebispo Peter Comensoli de Melbourne, na Austrália, usou o X (antigo Twitter) para dizer que prefere "o original", com a foto da obra de Da Vinci.
Já bispo Robert Barron, de Winona-Rochester (EUA), chamou a paródia da Santa Ceia de "grosseira", enquanto o arcebispo de Santiago do Chile, Dom Fernando Chomali, disse estar decepcionado com a encenação "grotesca" do que ele chama de "a coisa mais sagrada que nós, católicos, temos, a Eucaristia".
O padre dominicano Nelson Medina afirmou que, por conta a recriação da Santa Ceia, "não vai assistir a uma única cena dos Jogos Olímpicos". "Que repugnante o que fizeram zombando do Senhor Jesus Cristo e seu supremo dom de amor. E eles são covardes: eles não mexeriam com Maomé", disse o pároco.
As informações são de Estadão Conteúdo