Após o anúncio de Biden, Trump descreveu Biden como sendo “de longe o pior presidente da História do nosso país”
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou neste domingo que renuncia a se candidatar à reeleição após semanas de especulações sobre sua capacidade física e agilidade mental.
A decisão dramática e anunciada de última hora visa encontrar um novo candidato capaz de impedir o ex-presidente Donald Trump de retornar à Casa Branca.
“Tem sido a maior honra da minha vida servir como seu Presidente”, disse ele em uma carta publicada nas redes sociais. “E, embora minha intenção tenha sido buscar a reeleição, acredito que é do melhor interesse do meu partido e do país que eu me retire e me concentre exclusivamente em cumprir meus deveres como Presidente pelo restante do meu mandato.”
Na sequência, em outra publicação, Biden demonstrou apoiar a possível candidatura da atual vice-presidente Kamala Harris. “Hoje quero oferecer todo o meu apoio e endosso para que Kamala seja a indicada do nosso partido este ano. Democratas: é hora de nos unirmos para derrotar Trump. Vamos fazer isso”, escreveu. Minutos mais tarde, Biden pediu doações para a campanha de Kamala.
Após o anúncio de Biden, Trump descreveu Biden como sendo “de longe o pior presidente da História do nosso país”. A declaração foi dada à CNN, por telefone. E, embora ainda não esteja definido quem será o candidato democrata, o ex-presidente republicano disse acreditar que a vice-presidente Kamala Harris será mais fácil de derrotar do que Biden teria sido.
Donald Trump também usou seu perfil numa rede social para criticar Joe Biden. Na mensagem, ele o chamou de "corrupto", e disse que "Biden não estava apto para concorrer à Presidência e certamente não está apto para servir". Segundo Trump, o atual presidente chegou ao cargo "através de mentiras, fake news".
Disputa intensa e abreviada
A decisão de Biden abre espaço para uma intensa e abreviada disputa para formar a nova chapa democrata. Esta é a primeira vez em gerações que uma nomeação será decidida em uma convenção em vez das primárias.
Biden permanece como chefe de Estado e ainda planeja concluir seu mandato em janeiro, mas a transição da campanha para quem for escolhido representará uma mudança geracional na liderança do Partido Democrata. O eventual candidato terá pouco mais de 75 dias após a convenção do próximo mês para consolidar o apoio dos democratas, se estabelecer como um líder nacional credível e argumentar contra o ex-presidente republicano na campanha.
Biden, de 81 anos, anunciou sua retirada após um desempenho considerado desastroso no debate contra Trump no mês passado. A ocasião solidificou as preocupações públicas sobre sua idade e desencadeou o pânico generalizado entre os democratas, que duvidavam de sua capacidade de impedir o retorno do ex-presidente à Casa Branca. Líderes congressionais democratas, aterrorizados pelos números desastrosos das pesquisas, pressionaram Biden a abandonar a disputa.
Decisão sem precedentes
Nenhum chefe de Estado em exercício nos EUA desistiu de uma corrida presidencial tão tarde no ciclo eleitoral na História americana. Kamala e quaisquer outros candidatos à nomeação terão apenas algumas semanas para conquistar o apoio dos quase 4 mil delegados à Convenção Nacional Democrata.
A campanha de Biden para um segundo mandato desmoronou de forma rápida e surpreendente após os principais nomes do partido concluírem que ele seria incapaz de derrotar Trump em novembro. Durante o debate contra o ex-presidente, o atual mandatário, que já é o presidente mais velho da História americana, parecia frágil, hesitante e confuso, perdendo oportunidades de argumentar contra Trump.
Embora o republicano de 78 anos seja apenas um pouco mais jovem que Biden, ele pareceu enérgico no debate (ainda que tenha feito repetidas declarações falsas e enganosas). Questionamentos sobre o declínio cognitivo do ex-presidente também foram levantados, já que ele frequentemente também divaga em entrevistas e comícios e confunde nomes, datas e fatos.
A idade de Biden já era uma preocupação dos eleitores muito antes do debate. Pesquisas eleitorais indicavam que a maioria dos democratas disse há mais de um ano que consideravam o atual presidente velho demais para o cargo. Nascido durante a Segunda Guerra Mundial e eleito para o Senado pela primeira vez em 1972, antes de dois terços dos americanos de hoje terem nascido, Biden teria 86 anos ao final de um segundo mandato.
O democrata sempre afirmou que sua experiência era uma vantagem — e sustentava que era o candidato mais apto a derrotar Trump, dado que já o fez em 2020. Mas seus esforços para tranquilizar os aliados de que estava preparado para a tarefa falharam em obter apoio. Em vez disso, sua lentidão em se aproximar dos líderes do partido e algumas das respostas que deu em entrevistas só alimentaram o descontentamento interno.
Promessa de união
Ao desistir, Biden tornou-se o primeiro presidente em exercício em 56 anos a abandonar uma chance de concorrer novamente. Com seis meses restantes em seu mandato, sua decisão o transforma numa espécie de “pato manco”. Espera-se, porém, que ele use seu tempo restante no cargo para tentar consolidar os avanços na política doméstica e para gerenciar as guerras em andamento na Europa e no Oriente Médio.
O anúncio de Biden sinalizou o fim de uma vida improvável no serviço público que começou há mais de meio século com sua primeira eleição para o Conselho do Condado de New Castle, em Delaware, em 1970. Ao longo de 36 anos no Senado, oito anos como vice-presidente, quatro campanhas para a Casa Branca e mais de três anos como presidente, Biden tornou-se um dos rostos mais familiares na vida americana, conhecido por sua personalidade afável, gafes habituais e resiliência diante da adversidade.
Ainda assim, Biden lutou para transformar a Presidência unificadora que prometeu. Ele liderou o país para sair da pandemia mais mortal em um século e da turbulência econômica resultante. Suas esperanças de curar as divisões que se ampliaram sob Trump, contudo, foram frustradas. A sociedade americana permanece profundamente polarizada, e seu antecessor ainda é uma força poderosa, capaz de agitar forças e encorajar supremacistas brancos e antissemitas.
Trabalhando com as margens partidárias mais estreitas no Congresso, ele obteve algumas das vitórias legislativas mais ambiciosas de qualquer presidente moderno em seus primeiros dois anos. Entre outras medidas, ele aprovou um pacote de alívio da Covid-19 de US$ 1,7 trilhão; um programa de US$ 1 trilhão para reconstruir as estradas, rodovias, aeroportos e outras infraestruturas do país; e investimentos significativos para combater a mudança climática, reduzir os custos de medicamentos prescritos para idosos, tratar veteranos expostos a queimadas tóxicas e fortalecer a indústria de semicondutores do país.
Ele também assinou uma legislação destinada a proteger o casamento entre pessoas do mesmo sexo caso a Suprema Corte revertesse sua decisão de legalizá-lo. Biden ainda nomeou Ketanji Brown Jackson como a primeira mulher negra na Suprema Corte e instalou mais de 200 outros juízes nos tribunais federais inferiores, apesar do controle apertado do Senado. Cerca de dois terços de suas escolhas eram mulheres e aproximadamente dois terços eram negros, hispânicos ou membros de outras minorias raciais, significando que ele fez mais para diversificar a bancada federal do que qualquer presidente.
Algumas das principais leis aprovadas por Biden receberam votos republicanos, mas sua sequência de sucessos legislativos efetivamente terminou com as eleições de meio de mandato de 2022, quando os republicanos conquistaram uma maioria estreita na Câmara, mesmo sem a “onda vermelha” que haviam antecipado. Desde então, Biden ficou na defensiva, forjando acordos com os republicanos para evitar paralisações do governo e inadimplência nacional, mas realizando pouco mais de maneira proativa.
As informações são de Peter Baker, Em The New York Times — Washington, D.C.