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COTIDIANO

Médico é indiciado por lesões gravíssimas em paciente durante procedimentos estéticos em SC

Cirurgião plástico vai responder por lesão corporal gravíssima. Ele já foi condenado na área civil ao menos quatro vezes; no caso mais grave, teve que indenizar familiares de paciente que morreu após lipoaspiração

16/10/2024 14h00 | Atualizada em 16/10/2024 14h02 | Por: Redação Folha Regional | Fonte: G1SC

Um cirurgião com atuação em Florianópolis foi indiciado pela Polícia Civil, na noite de segunda-feira, dia 14, por lesão corporal gravíssima contra uma paciente, que prevê pena de até cinco anos de prisão.

Marcelo Evandro dos Santos foi denunciado criminalmente por mulheres atendidas por ele após casos de queimaduras, bolhas, necrose e perda de tecido em procedimentos estéticos que realizou.

O médico se manifestou por nota. Disse que "os processos citados nesta matéria encontram-se sob sigilo processual. Por tais razões, minha manifestação sobre cada caso continuará sendo feita nos autos das respectivas ações".

Além do indiciamento, em que vai responder por crime, o cirurgião já foi condenado na área civil, anteriormente, ao menos quatro vezes. No caso mais grave, indenizou familiares de uma paciente que morreu após lipoaspiração, em 2021. Uma das pacientes que denunciou o médico foi a neuropsicopedagoga Letícia Mello. Ela fez a primeira consulta em janeiro. Ela queria trocar as próteses de silicone e saber mais sobre uma técnica de lipoaspiração. O médico também indicou outros procedimentos.

“Disse que poderia tirar a flacidez da barriga. Logo em seguida já tocou no meio das minhas pernas, falou que também poderia ser possível tirar essa flacidez que a academia não tira, e que eu tinha uma depressão lateral" contou.
Segundo ela, ele ainda indicou tirar gordurinha das costas para colocar na depressão lateral, o que deixaria o glúteo mais redondo.

"Eu fui para procurar um procedimento, acabei sendo encantada por vários outros. Não fui avisada dos riscos que teriam, da quantidade de horas e procedimentos", relatou a paciente.

Letícia passou por 12 cirurgias no mesmo dia com o médico. Foram 10 horas no centro cirúrgico e 7 quilos de gordura retirados. Concluído o procedimento, ela demorou a ter alta. Passou 11 dias em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e mais de dois meses internada.

“O lado direito paralisado e comecei a ter muita dificuldade com respiração. Recebi seis bolsas de sangue e fiquei muito mal, muito debilitada, muito fraca" disse. Além disso, conta que começou a "queimar". "Meu corpo começou a criar bolhas, começaram a aparecer umas secreções. Eu comecei a ficar totalmente queimada na barriga, nas pernas, nos braços, foi subindo para os seios e eu fiquei 20 dias ali, praticamente necrosando”, contou.

Investigação

Depois de sair do hospital, em abril deste ano, Letícia fez uma denúncia na Delegacia-Geral da Policia Civil de Santa Catarina. O inquérito, instaurado no mesmo mês, foi concluído na noite de segunda.

A Polícia Civil, ouviu pessoas da área técnica, concluindo que o prazo para a finalização de uma cirurgia de caráter estético tem uma duração limite menor do que Letícia foi submetida. A quantidade de gordura retirada também tem uma quantidade específica, explicou a polícia.

"Nesse caso, o delegado apurou que ocorreu uma passagem do que estava previsto pela doutrina, pela literatura, na questão de tempo e, também, na questão de gordura que foi aspirada da vítima", explicou o delegado-geral da Polícia Civil de Santa Catarina, Ulisses Gabriel.

Processos

Embora tenha sido indiciado nesta semana, anteriormente ele já enfrentou a Justiça ao ser processado por pacientes, porém, na área civil. Contra ele foram movidos pelo menos sete processos de indenização por dano moral em Santa Catarina e no Paraná. Quatro vítimas conseguiram a condenação.

No caso mais grave, o médico foi condenado a indenizar a família de uma paciente do Paraná que morreu após uma lipoaspiração. A juíza do caso afirmou que Marcelo foi responsável pelo óbito, que ele fazia propaganda enganosa sobre sua especialidade e foi negligente na cirurgia estética.

A sentença, de 2021, afirmou que ele já tinha condenação prévia por erro médico, fazia procedimentos sem ser especialista nem associado a sociedade brasileira de cirurgia plástica e que operava em clínica onde não havia condições de atender questões urgentes.

O que diz o CRM

Em nota, o Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina informou que apura a conduta do médico em uma sindicância, mas que não pode se manifestar sobre processos em tramitação.

O Conselho Regional de Medicina do Paraná também disse que não pode se manifestar, e afirmou que o cirurgião está regularmente inscrito nos conselhos dos dois estados.

“Hoje eu faço acompanhamento psicológico, acompanhamento psiquiátrico para não entrar em uma depressão e entender que tem um propósito eu estar viva”, disse Letícia.

O que diz o médico

Leia abaixo a nota completa do médico Marcelo Evandro dos Santos.

Em 23 anos na área da medicina, atuando nas especialidades de cirurgia geral e cirurgia plástica, sempre priorizei a saúde e o bem-estar dos meus pacientes, prestando o atendimento mais personalizado e humano possível, além de seguir e respeitar o Código de Ética Médica e todos os princípios e valores da profissão.

Solicito todos os exames necessários e forneço todas as orientações pré e pós-operatórias, além de estar sempre à disposição dos meus pacientes para atendimento e acompanhamento em casos de eventuais intercorrências. Esclareço que existem reações biológicas inerentes a cada paciente, as quais são informadas em termos de consentimento antes de cada cirurgia.Como membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), Society of Aestgetic Plástico Surgery (ISAPS) e da Associação Brasileira de Cirurgiões Plásticos (BAPS), estou em constante atualização profissional, realizando cursos de qualificação e participando de congressos voltados ao conhecimento e aprimoramento do domínio dos procedimentos em cirurgia plástica. Realizo uma média de 300 cirurgias por ano e, em todas, utilizo as técnicas mais modernas e recomendadas dentro da especialidade.

O Código de Ética Médica veda que o profissional exponha fatos dos quais teve conhecimento em razão de sua função, mesmo que tornados públicos. Além disso, os processos citados nesta matéria encontram-se sob sigilo processual. Por tais razões, minha manifestação sobre cada caso continuará sendo feita nos autos das respectivas ações.

Tenho confiança na ética e no comprometimento com que conduzo o meu trabalho e estou seguro de que todas as acusações serão esclarecidas na justiça.

As informações são do G1Sc

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