O ministério afirma que as declarações do italiano Nunzio Bevilacqua são misóginas, xenofóbicas e discriminatória
O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) emitiu uma nota de repúdio nesta sexta-feira, dia 23, contra as declarações públicas, amplamente veiculadas na imprensa italiana e brasileira, proferidas pelo cidadão italiano Nunzio Bevilacqua, que difamam a tubaronense Barbara Zandômenico Perito, acusada sem provas pelo ex-namorado de integrar uma seita que engravida mulheres para tentar ganhar dinheiro de pensões alimentícias.
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Conforme o Ministério, as acusações divulgadas, “além de atentarem contra a honra de uma mulher brasileira, reverberam discursos misóginos, xenofóbicos e marcadamente carregados de intolerância religiosa, que impactam não apenas a vítima direta, mas também a imagem e a dignidade da comunidade brasileira residente na Itália — em especial as mulheres migrantes.”
As acusações de Nunzio Bevilacqua, advogado e empresário com negócios no Brasil, começaram após o fim do relacionamento entre eles. Mesmo com a paternidade confirmada, o italiano disse que não queria fazer parte da vida da criança.
Em entrevistas a RAI, principal TV da Itália, e a outros veículos do país, ele afirma ter recebido a seguinte denúncia anônima: "A gravidez de Barbara seria fruto de orgias e ritos satânicos brasileiros que alimentavam uma fábrica de crianças sobrenaturais para lucro com pensões alimentícias."
Nunzio envolveu no roteiro membros do Ministério Público de Santa Catarina, grupos religiosos, médicos, políticos e até mesmo os familiares de Barbara. Lideranças de Pedras Grandes, Treze de Maio e da região sul entraram com ação na justiça contra o italiano.
"Ele criou uma narrativa como se no Brasil tudo fosse possível", diz Barbara. "Seita religiosa, que é uma organização criminosa, em que as mulheres engravidam de um santo por meio de uma fertilização. Ou seja, todas as crianças são filhas do mesmo santo, do mesmo guru. E, depois de dois anos, se a gente não alcança o objetivo, as crianças são vendidas."
A defesa de Barbara pede que Nunzio seja responsabilizado.
"Ele atenta contra o Ministério Público, ele atenta contra a Igreja Católica, contra outras religiões, contra uma pessoa que tem direitos, que é a Barbara, e mais ainda: contra a filha dele, uma menor de idade", diz Vitor Poeta, advogado de Barbara Perito.
Para o Ministério dos Direitos Humanos, o caso em questão, cuja motivação estaria inserida em disputa judicial privada relativa ao pagamento de pensão alimentícia, extrapola o campo pessoal e alcança dimensão pública e política, ao fomentar estereótipos discriminatórios e preconceituosos que ferem princípios fundamentais de direitos humanos e a dignidade da pessoa humana.
“Este Ministério reafirma seu compromisso com a proteção dos direitos das mulheres, das pessoas migrantes e da liberdade religiosa, princípios estes consagrados na Constituição Federal e nos tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil é signatário. Reafirmamos, ainda, nossa solidariedade à cidadã brasileira injustamente exposta e violentada em sua honra, e às demais brasileiras que enfrentam contextos de discriminação e violência no exterior”, afirma o órgão em nota oficial.
“O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania acompanhará o caso com atenção, em articulação com os órgãos competentes, reafirmando que discursos de ódio, intolerância e violação de direitos não podem ser naturalizados nem permanecer impunes.”