Dom Adilson Busin coordena Comissão Episcopal Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano na fronteira entre o Brasil e a Guiana, onde há fluxo intenso de migrantes em vulnerabilidade
O bispo da diocese de Tubarão, dom Adilson Pedro Busin, preside a Comissão Episcopal Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano (CEPEETH) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que realiza uma missão no Estado de Roraima, na fronteira com a Guiana e a Venezuela de 17 a 23 de junho.
O bispo afirma que a comissão tem entre seus objetivos “a conscientização, a incidência política e eclesial”. A missão ajuda a “trazer a temática do tráfico humano, que é escondida, inclusive as vítimas são escondidas”, ressalta o bispo.
Segundo a comissão, na fronteira entre o Brasil e a Guiana, o fluxo de venezuelanos, cubanos e haitianos é constante. Os migrantes chegam muitas vezes em situação de extrema pobreza, sendo grande a demora para conseguir documentação, que é tramitada em Boa Vista, com uma lista de espera de mais de 100 migrantes em Bonfim, que pelo fato de não terem documentação são vítimas fáceis das redes de exploração. Tanto em Bonfim (Brasil), como em Lethem (Guiana), uma região com predominância de indígenas Wapichana, os povos originários não se submetem às fronteiras dos brancos, a Igreja católica dá assistência aos migrantes.
Na região de fronteira, as vulnerabilidades são comuns, uma delas é o tráfico de mercúrio, usado no garimpo ilegal, com vínculos estreitos com fações do crime organizado, que produz graves doenças e diversas explorações na população local e nos migrantes.
Para superar as diversas vulnerabilidades, a CEPEETH, apresentou materiais que sistematizam o trabalho da Igreja do Brasil no enfrentamento ao tráfico de pessoas.
Uma das demandas constatadas pela comissão é a presença da Polícia Federal na fronteira, uma dificuldade diante da falta de pessoal no Estado.
O bispo de Tubarão incentiva os fiéis a terem conscientização sobre a realidade das fronteiras. “Precisamos nos conscientizarmos da Doutrina Social da Igreja, ver as vítimas do tráfico humano como uma das tantas categorias que são vulneráveis, e ao mesmo tempo, uma das categorias mais invisíveis, porque ele é tão sutil, e é difícil de alcançar por causa de toda a problemática que envolve o tráfico de pessoas”, afirma.
A tentação de culpar o estrangeiro
Refletindo sobre a Campanha da Fraternidade 2024, “Fraternidade e Amizade Social”, que tem como lema “Vós sois todos irmãos e irmãs”, dom Adilson Busin afirma que “uma das tentações do mundo atual, não só no Brasil, é a polarização que nós vemos, as guerras, a violência, uma sociedade irada, onde nós nos sentimos acuados. Neste momento em muitos países, e nós temos tentação também no Brasil, de culpar a quem é estrangeiro, quem vem de fora.”
Nessa perspectiva, o dom Adilson Busin denuncia que “a xenofobia é o ápice da irracionalidade”, fazendo um chamado a olhar a Campanha da Fraternidade de 2024 e o convite do Papa Francisco ao cuidado da casa comum, que o leva a dizer que “não tem ninguém de fora, as fronteiras estão ali, como limites políticos, geográficos, mas é uma contradição do Evangelho olhar o irmão como um problema”. Nessa perspectiva, o bispo sublinha que “os problemas estão aí para que nós como Igreja, como sociedade, como governos e como Nações Unidas, tratemos os migrantes não com esse olhar infeliz de achá-los culpáveis, como causa dos problemas”.
Com informações de Vatican News