Nesta quinta-feira, os moradores se reuniram à beira-rio para relembrar a tragédia que atingiu suas casas e cobrar providências. Recursos do governo do Estado não foram repassados
“Hoje estamos em luto. Um ano à espera de respostas. Um ano que perdemos nossas casas”, diz a professora Luciana Demétrio da Silva Maurício, conhecida como Tia Lu. Ela faz parte de um grupo de quase 50 famílias que ainda sofrem com as consequências da enchente que assolou Tubarão em maio do ano passado.
Foram 56 imóveis interditados em toda a Tubarão, cerca de 15 deles só na beira-rio do Km 60, que tiveram de ser postos abaixo por segurança, e 47 famílias vivendo em imóveis alugados por meio do programa Aluguel Social, da Fundação Municipal de Desenvolvimento Social.
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Nesta quinta-feira, dia 4, alguns moradores que perderam suas casas no ano passado se reuniram na beira-rio do Km 60 para relembrar a tragédia e pedir providências. Ao todo, são 16 famílias do Km 60 e uma da Guarda, que perderam suas residências após enchente.
Ao pisar sob o gramado que ainda está em crescimento após as obras de enrocamento, eles lembraram que ali ficavam seus imóveis.
Um pouco mais a frente ficava a casa de seu Sebastião Eufrásio. Ele morava com a esposa e os filhos há 43 anos no mesmo lugar e até então, nunca tinha passado por uma situação de calamidade a ponto de ter sua casa derrubada. “Tinha minha casa própria, nossa rotina. Agora a gente recebe um aluguel social de R$ 500 pra pagar o aluguel da casa que é mais de R$ 600, sem contar com a água, luz, comida. Não está fácil”, lamenta Sebastião.
A professora Luciana Demétrio morava com a família também no Km 60 há 14 anos na casa própria. Seu esposo, que é marceneiro, possuía uma estrutura com maquinário onde fazia os móveis para venda. Em maio do ano passado, eles viram seus bens e empreendimento ir literalmente por água abaixo.
Depois de ficar 19 dias com a família na garagem da casa do pai, na Passagem, encontrou uma casa próxima de onde morava. Pertencia à avó de uma ex-aluna, que, num gesto de solidariedade, retirou o imóvel da imobiliária para o aluguel ficar mais barato.
“No início, o pessoal do Moto Clube nos ajudou a pagar o aluguel, até começarmos a receber o Aluguel Social pela prefeitura de R$ 600. Complementamos com R$ 100. A comunidade e a igreja nos ajudaram com alimento, água, roupa, produtos de limpeza. Clientes e amigos também nos ajudaram”, diz. Ela ainda conta que ficaram quase cinco meses sem poder trabalhar e dependendo apenas da ajuda de amigos.
Um ano depois, Luciana afirma que a vida ainda não voltou ao normal. “Todos nós tínhamos nossas casas próprias e faz um ano que tivemos que nos adaptar, encontrar uma nova casa, depender de aluguel social e agora ainda vem os reajustes. Recebemos R$ 600 da prefeitura, mas nosso aluguel é quase R$ 900 e se não pagarmos seremos colocados para fora.”
Um ano à espera de respostas
Há um ano os moradores buscam respostas sobre o auxílio do governo para construção de novas residências. Eles enfatizam que já participaram de diversas reuniões na prefeitura, em que foi anunciado que por meio do programa SC Mais Moradia, o governo do Estado iria repassar até R$ 70 mil por unidade habitacional para a construção do imóvel, que teria em média 50 metros quadrados.
Ao município cabe a responsabilidade de adquirir os terrenos e o governo do Estado repassaria os recursos. Em junho do ano passado, o ex-governador Carlos Moisés esteve na cidade e anunciou o repasse de R$ 15 milhões para viabilizar ações de recuperação da enchente ocorrida em maio. O ato de formalização do repasse dos recursos aconteceu no Salão Nobre da Unisul, no qual mais oito municípios atingidos por alagamentos foram contemplados.
Os R$ 15 milhões seriam aplicados, em três lotes de R$ 5 milhões, na construção de casas para cerca de 50 famílias que tiveram as residências totalmente destruídas ou condenadas pela enchente, no enrocamento de quatro pontos do Rio Tubarão na área Central e na aquisição de três bombas móveis com geradores que poderão ser utilizados em situações de emergência e aquisição de equipamentos para estruturação da Defesa Civil municipal.
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No entanto, segundo o atual coordenador da Defesa Civil municipal, Diego Goulart, desse montante, foi repassado apenas cerca de R$ 1,5 milhão para as obras de enrocamento já concluídas. “Com a troca de governo, os convênios foram cancelados e o dinheiro não foi repassado. Há poucos dias nos reunimos com o coronel Armando, secretário da Defesa Civil do Estado, para buscar alternativas”, afirma Diego Goulart.
Ele ressalta que conforme o coronel, o governo do Estado está analisando os antigos convênios e estuda novas formas de atender as famílias atingidas de Tubarão. “O governo do Estado pretende analisar uma outra fonte de recurso, mas por enquanto, sem prazos para repasses”, diz.
Recursos limitados para aluguel social
As famílias que perderam suas residências foram cadastradas em um programa da Fundação Municipal de Desenvolvimento Social para receber o aluguel social. De acordo com o diretor-presidente da Fundação, Deka May, esse aluguel é pago com recursos próprios do município e conforme orçamento, tem prazo limitado para continuidade.
“O recurso anunciado do governo do Estado de R$ 5 milhões não veio. A prefeitura faz o repasse do aluguel social com recursos próprios, mas o prazo deve se estender até os próximos 2 a 3 meses. Após isso, o prefeito interino terá que analisar se há condições de continuar fazendo esse repasse”, explica.
Deka May também destaca que o município chegou a fazer o levantamento dos terrenos para lançar licitação para aquisição, porém, aguarda o convênio do governo do Estado para dar continuidade. “Assumimos uma paternidade que não é nossa. Só faltava fazer a licitação. São muitas burocracias e não temos recurso. Cheguei a sugerir que o governo do Estado verifique outras alternativas para fazer o repasse dos valores de R$ 70 mil, que seriam investidos na construção das casas, para que cada morador invista onde achar viável. Porém, isso depende deles.”
Sem recursos e sem prazos para novos convênios, os moradores tentam chamar a atenção das lideranças locais e estaduais para que providências sejam tomadas. “Muitos acham que já voltamos a vida normal, mas ninguém sabe como estamos. Se a gente não vai atrás de respostas, ninguém nos informa. Falta transparência. A última reunião na prefeitura foi em fevereiro e não tivemos mais retorno. Continuamos esperando”, comentam os moradores.