Com mercados cada vez mais voláteis e cenários econômicos imprevisíveis, a diversificação deixa de ser uma recomendação genérica e se torna um pilar central do planejamento financeiro.
Falar em diversificação pode soar repetitivo — mas, na prática, é justamente o que falta na maior parte das carteiras brasileiras. Em um ambiente de juros altos, muitos investidores se acostumaram a concentrar seus recursos em renda fixa e deixaram de lado oportunidades relevantes em outras classes de ativos.
Agora, com mudanças no ciclo econômico, debates sobre tributação, e um cenário global mais interligado, a importância de espalhar o risco entre diferentes produtos, setores e geografias se tornou ainda mais evidente.
Diversificar não é apenas distribuir o patrimônio entre renda fixa, renda variável e alternativas. É entender que cada ativo reage de forma diferente às condições do mercado. Enquanto ações sofrem com volatilidade, títulos públicos podem atuar como amortecedores. Fundos imobiliários ajudam a blindar a carteira com renda recorrente, enquanto investimentos internacionais protegem contra riscos locais — políticos, fiscais ou cambiais.
Em planejamento patrimonial, a diversificação também desempenha um papel crucial. Ela reduz a dependência de um único ativo ou estratégia para preservar o patrimônio ao longo das gerações. Para quem deseja construir riqueza de forma sustentável e resiliente, a proteção é tão importante quanto o retorno.
O investidor que diversifica dorme melhor, toma decisões com menos emoção e evita erros clássicos como perseguir o ativo da moda ou concentrar tudo naquilo que “deu certo no passado”, ou alocar o dinheiro no “investimento da vez”. No fim, diversificar é aceitar que não existe previsibilidade absoluta — e que a disciplina compensa mais do que tentar adivinhar o próximo movimento do mercado.
Em um mundo onde as variáveis mudam rápido demais, a diversificação é mais que uma estratégia: é um seguro de longo prazo contra a incerteza. Investir bem não é acertar sempre — é estar preparado para quando o inevitável acontecer.
Enquanto o governo busca ampliar a arrecadação, investidores acompanham de perto discussões em Brasília que podem alterar a forma como produtos isentos e rendimentos de ações são tributados.
O Brasil vive um momento de reestruturação tributária. Discutir a tributação de produtos financeiros e de dividendos é legítimo, mas é preciso cuidado para não desestimular o investimento produtivo e o hábito de poupar. Mais importante do que aumentar a arrecadação é garantir previsibilidade e clareza nas regras. Mudanças frequentes ou retroativas geram insegurança e afastam capital. O investidor precisa de estabilidade e coerência para planejar.
A tributação justa deve vir acompanhada de educação financeira, simplificação e transparência — pilares fundamentais para o amadurecimento do mercado e para uma sucessão patrimonial eficiente e sustentável.
Tendo isso em mente, sabemos que o tema da tributação de investimentos voltou ao centro do debate econômico, e a ideia que está em pauta em Brasília é que se crie um imposto de 5% sobre as LCIs e LCAs a partir de 2026. No Congresso e no Ministério da Fazenda, há discussões avançadas sobre rever isenções em produtos de renda fixa isentos, como LCI (Letras de Crédito Imobiliário) e LCA (Letras de Crédito do Agronegócio) — e também sobre voltar a tributar dividendos, um tema que divide opiniões há anos.
As LCI e LCA são títulos emitidos por bancos para financiar o setor imobiliário e o agronegócio. Hoje, seus rendimentos são isentos de Imposto de Renda para pessoas físicas, o que em muitos casos as torna muito atrativas frente a outros produtos de renda fixa.
O governo, no entanto, avalia que essa isenção gera distorções e reduz a arrecadação — especialmente em um momento de ajuste fiscal e busca por mais equilíbrio nas contas públicas. De outro lado, os bancos e parte do mercado argumentam que a isenção é essencial para manter o fluxo de crédito para setores estratégicos da economia e para garantir um instrumento de investimento acessível e seguro para o pequeno poupador.
Para o investidor, mais do que acompanhar as manchetes, é hora de entender como cada ajuste tributário pode impactar sua estratégia e planejar com antecedência.
Com a Selic em 15%, a diferença entre investir e apenas guardar dinheiro nunca foi tão grande.
Na semana passada, falamos sobre como a poupança perdeu atratividade e deixou de ser uma boa opção para quem busca rentabilidade sem abrir mão da segurança. Agora, vamos entender na prática o impacto dessa escolha no bolso do investidor.
Imagine R$ 100 mil aplicados na poupança por um ano, com a Selic atual em 15% ao ano. Pela regra de remuneração, quando a Selic está acima de 8,5%, a poupança rende 0,5% ao mês + TR, que atualmente gira em torno de 0,12%. Na prática, isso equivale a um rendimento mensal próximo de 0,62%, ou cerca de 7,7% ao ano. Ao fim de 12 meses, o saldo seria de aproximadamente R$ 107.700.
Enquanto isso, um investimento conservador como o Tesouro Selic — título público garantido pelo governo federal e com liquidez diária — renderia próximo aos 15% ao ano, elevando o mesmo investimento para cerca de R$ 115.000 no mesmo período. A diferença de R$ 7.300 em apenas um ano representa o custo invisível da comodidade: o investidor da poupança assumiu praticamente o mesmo nível de risco, mas teve 40% menos rentabilidade.
Se ampliarmos o horizonte, o impacto é ainda maior. Mantendo os R$ 100 mil aplicados por cinco anos, a poupança alcançaria algo em torno de R$ 145 mil, enquanto o Tesouro Selic ou um CDB conservador de banco sólido renderia aproximadamente R$ 200 mil — uma diferença de R$ 55 mil, o equivalente a mais de meio ano de trabalho para muitos brasileiros.
Esse é o ponto central: ficar parado também é um risco — o risco de ver o dinheiro perder valor para a inflação, que corrói o poder de compra em cerca de 5% ao ano, ou simplesmente render muito menos do que poderia, mesmo sem aumentar o grau de exposição.
Hoje, o investidor conservador tem várias alternativas seguras e acessíveis. CDBs, fundos de liquidez diária e títulos públicos são opções que entregam rentabilidade superior, liquidez parecida e, em muitos casos, proteção adicional pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
Investir não é sobre apostar, e sim sobre entender as escolhas. Com informação e orientação, é possível fazer o dinheiro trabalhar mais — com segurança, liquidez e propósito.
A poupança continua sendo confortável, mas, no atual cenário de juros altos, esse conforto cobra um preço alto. É hora de dar o primeiro passo fora da zona de conforto e perceber que, quando o assunto é patrimônio, não fazer nada também é uma decisão — e, muitas vezes, a mais cara de todas.
Durante muito tempo, a poupança foi sinônimo de segurança. Muitos brasileiros ainda acreditam que é o melhor caminho para guardar dinheiro, mas a verdade é que ela deixou de fazer sentido há bastante tempo.
Quando falamos em “investir na poupança”, geralmente associamos a um investimento de baixo risco e alta liquidez (resgate rápido). No entanto, há alguns pontos de atenção importantes que muitas vezes passam despercebidos.
O rendimento da poupança é atrelado à taxa Selic, mas com regras que limitam seus ganhos. Quando a Selic está acima de 8,5%, ela remunera apenas 0,5% ao mês mais a TR (geralmente entre 0,10% e 0,16%). Com a Selic abaixo de 8,5%, a rentabilidade cai para 70% da taxa básica. Na prática, isso faz com que o retorno da poupança quase nunca acompanhe a inflação — e o investidor acabe perdendo poder de compra ao longo do tempo. Essa perda é justamente a desvalorização do dinheiro.
Outro ponto importante é o risco percebido. Muitas pessoas acreditam que a poupança é “sem risco”, mas, na prática, há alternativas ainda mais seguras e rentáveis. Títulos públicos, por exemplo, possuem risco menor que a poupança, pois são garantidos diretamente pelo governo federal e oferecem liquidez diária, ou seja, podem ser resgatados a qualquer momento. Além disso, CDBs contam com a proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) e costumam oferecer retornos mais elevados. LCIs e LCAs mantêm essa mesma proteção, mas possuem prazos de carência maiores, o que reduz um pouco a liquidez.
Alternativas simples e acessíveis
O mercado financeiro hoje oferece diversas alternativas simples e acessíveis para quem quer rentabilizar melhor sua reserva sem abrir mão da segurança. Fundos de investimento de liquidez diária, por exemplo, são ótimos substitutos para a poupança: aplicam em títulos públicos e privados de baixo risco, rendem próximo à Selic e permitem resgates rápidos — muitas vezes no mesmo dia.
Investir não significa correr riscos desnecessários, e sim fazer escolhas conscientes e informadas. Com um bom planejamento e orientação adequada, é possível alcançar resultados muito superiores mantendo o mesmo nível de segurança — ou até menor exposição, dependendo do produto escolhido.
A poupança continua sendo confortável, mas, quando o assunto é patrimônio, o conforto pode sair caro. É hora de trocar o hábito pelo conhecimento e fazer o dinheiro trabalhar de forma mais inteligente.
O cenário econômico influencia diretamente os resultados dos investimentos. Dois indicadores fundamentais são a inflação e a taxa de juros. A inflação indica o aumento geral de preços na economia; quando ela cresce, o poder de compra diminui, e os investimentos precisam render mais para não perder valor. No Brasil, a inflação é medida pelo IPCA, que acompanha a variação de preços mensalmente. Para 2025, a meta de inflação é de 4,72%, mas até agora já acumulamos 3,59% no ano, mostrando que o efeito sobre o poder de compra já é relevante e dificilmente será alcançado até dezembro.
Investimentos em renda fixa, como títulos públicos, CDBs, LCIs e LCAs, tendem a se beneficiar de juros mais altos, enquanto ativos de renda variável, como ações e fundos imobiliários, podem sofrer maior volatilidade. A taxa Selic, definida pelo Copom nas reuniões periódicas, está atualmente em 15%, nível considerado elevado, o que aumenta o rendimento da renda fixa e torna alguns investimentos em renda variável menos atrativos no curto prazo. Curiosamente, quando a Selic sobe, não só a renda fixa se torna mais atraente, mas também o crédito no país fica mais caro, reduzindo o consumo e ajudando a controlar a inflação.
Novos empreendimentos
No fim do dia, o empresário muitas vezes prefere aplicar o dinheiro a 15% ao ano (aproximadamente 1,25% ao mês), com risco praticamente nulo, em vez de investir na própria empresa, onde os riscos são maiores e a lucratividade pode ser menor. Isso mostra como juros altos desestimulam novos empreendimentos.
Juros e inflação estão interligados: quando a inflação sobe, o Banco Central pode aumentar a Selic para conter o aumento de preços, afetando o custo do crédito e o consumo. Por outro lado, juros elevados tornam investimentos conservadores mais atraentes, mas podem pressionar a valorização de ações e fundos imobiliários, refletindo diretamente nos resultados dos investidores.
Compreender a dinâmica entre inflação e juros permite interpretar melhor as decisões do Banco Central, antecipar impactos no mercado financeiro e ajustar sua estratégia de investimentos de forma mais consciente, equilibrando segurança e oportunidade ao longo do tempo.

Investimentos
Sócio da WISER Investimentos (BTG Pactual). Engenheiro e especialista em sucessão e gestão patrimonial, assessora famílias e empresas na diversificação de ativos no Brasil e nos EUA