Durante anos, o brasileiro viu a tabela do Imposto de Renda congelada, enquanto salários e preços subiam. O resultado foi perverso: milhões de trabalhadores que antes eram isentos passaram a pagar imposto, não porque enriqueceram, mas porque o Estado ignorou a realidade.
Agora, o governo tenta corrigir o erro com uma medida de grande apelo popular — isentar do IRPF quem ganha até R$ 5 mil por mês.
Na prática, isso representa o cumprimento de uma promessa de campanha e uma resposta tardia a mais de uma década de defasagem da tabela. Mas, como sempre, há um custo por trás de cada alívio fiscal.
A conta vem dos dividendos
Para compensar a perda de arrecadação, a proposta inclui a taxação de 10% sobre a distribuição de lucros e dividendos acima de R$ 50 mil por mês.
Ou seja, quem vive de lucros empresariais ou aplicações financeiras vai pagar parte da conta da nova isenção.
O discurso é de “justiça tributária”: quem ganha menos paga menos, quem ganha mais paga mais.
Mas, na prática, o risco é que se penalize justamente o empreendedor que gera empregos e reinveste no próprio negócio — aquele que sustenta a engrenagem da economia real.
Entre a promessa e a compensação
O governo tenta equilibrar duas forças opostas:
A pressão política de cumprir o que foi prometido ao eleitor: aliviar o peso sobre o trabalhador comum.
A necessidade fiscal de não abrir mão de arrecadação — o que leva a buscar novos alvos para tributar.
O resultado é um modelo que agrada à classe média baixa, mas preocupa empresários e investidores.
Mais uma vez, o país mexe na superfície do sistema, sem atacar o problema estrutural: o tamanho e o custo do Estado.
O verdadeiro desafio
Mas a reforma tributária que o Brasil precisa vai muito além de trocar quem paga a conta.
Precisamos de um sistema simples, previsível e que estimule quem produz.
Enquanto o foco estiver apenas em arrecadar mais para manter a máquina pública, o contribuinte continuará sendo o elo mais fraco — ora beneficiado, ora sacrificado.
Para refletir
“Quando o governo promete aliviar um lado, é porque já encontrou outro bolso para apertar.”
A Netflix teve um ano espetacular. Crescimento de 17%, receita recorde, milhões de novos assinantes. Tudo caminhava para mais um final feliz — até o roteiro brasileiro mudar o desfecho.
Na última divulgação de resultados, a empresa revelou uma despesa inesperada de US$ 619 milhões relacionada a uma disputa tributária no Brasil. O impacto foi tão grande que, mesmo com lucros e faturamento em alta, as ações despencaram quase 10% em Wall Street.
O motivo? Um velho conhecido de quem empreende por aqui: a CIDE-Tecnologia, contribuição federal cobrada sobre remessas de serviços e tecnologia para o exterior. Na prática, o Brasil entendeu que a Netflix deveria pagar imposto sobre boa parte do que envia à sua matriz — e a conta veio retroativa.
Quando o sucesso vira punição
É curioso observar como, no Brasil, crescer é quase uma provocação ao sistema tributário.
Empresas de tecnologia, inovação e streaming são celebradas pela capacidade de gerar valor, mas logo descobrem que, no nosso enredo, quem fatura mais também atrai mais burocracia, interpretações duvidosas e surpresas fiscais.
O caso da Netflix mostra o custo de operar em um país que ainda trata o contribuinte como inimigo. O imposto não é o problema — o problema é a imprevisibilidade, a insegurança jurídica e a falta de coerência entre o que o Estado cobra e o que entrega.
O reflexo no mercado
Quando uma gigante global é surpreendida por uma cobrança retroativa de centenas de milhões, o recado para investidores é claro:
“Se até a Netflix sofre com a confusão tributária brasileira, imagine o pequeno empresário.”
E é isso que derruba a confiança, afasta investimentos e trava o crescimento. O Brasil precisa entender que segurança jurídica não é luxo — é o mínimo para quem quer empreender e gerar riqueza.
No fim das contas
O imposto é necessário. O que não é aceitável é o roteiro de terror fiscal que empresas enfrentam por aqui.
O caso da Netflix é simbólico: mostra que nem o gigante do streaming escapou do nosso labirinto tributário.
E se até quem tem bilhão em caixa sofre para entender o fisco brasileiro, que dirá o empreendedor que tenta sobreviver com um CNPJ e um sonho.
Lição para o Brasil
“Enquanto o Estado enxergar arrecadação como fim — e não como meio —, sempre teremos histórias de sucesso interrompidas pela burocracia.”
“Pagar imposto é roubo.” Essa frase, que circula em mesas de bar, redes sociais e até em discursos políticos, é uma das provocações mais polêmicas do nosso tempo. Afinal, vivemos em um dos países com maior carga tributária do mundo — trabalhamos até maio ou junho só para pagar impostos — e, mesmo assim, convivemos diariamente com buracos na rua, filas no hospital e escolas que não entregam o básico.
Mas será que pagar imposto é mesmo roubo? Tecnicamente, não. O imposto é uma obrigação prevista na Constituição, um instrumento legítimo de arrecadação do Estado. O problema não está em pagar, mas em como o dinheiro arrecadado é usado. A sensação de “roubo” nasce da má gestão, da corrupção e da falta de retorno em serviços públicos de qualidade.
Nos países nórdicos, por exemplo, a carga tributária também é altíssima. A diferença é que lá o cidadão enxerga o retorno: saúde universal, educação de ponta, segurança eficiente. No Brasil, pagamos muito e recebemos pouco. Daí a revolta.
O futuro nos reserva uma mudança importante: a Reforma Tributária. Ela promete simplificar o sistema, unificando impostos como ICMS, ISS, PIS e Cofins em um IVA (Imposto sobre Valor Agregado). A promessa é reduzir burocracia e dar mais transparência. Mas ainda pairam dúvidas: fala-se em alíquotas elevadas, na casa dos 26% a 27%, e setores como serviços e agro podem sentir aumento de carga. Ou seja, a reforma pode diminuir o emaranhado de regras, mas não necessariamente reduzir o peso no bolso.
O cidadão não se revolta por pagar imposto. Ele se revolta por pagar caro, sem retorno, em um sistema injusto e desigual. Se a reforma cumprir o que promete, talvez possamos aposentar a frase “pagar imposto é roubo”. Se não, ela continuará ecoando com ainda mais força.
No fim das contas, a provocação precisa ficar: não é o imposto que rouba, é a má gestão do dinheiro público que nos faz sentir roubados.
Pagar imposto não é roubo; roubo é pagar e não ver retorno.
O Senado aprovou a criação de uma alíquota de 10% sobre lucros e dividendos distribuídos a pessoas físicas, quando o valor mensal ultrapassar R$ 50 mil por fonte pagadora. A regra só valerá para lucros gerados a partir de 1º de janeiro de 2026.
Na prática, muita gente já resumiu a medida como “novo imposto sobre o lucro das empresas”. Mas não é bem assim. O tributo incide sobre o que chega ao bolso do sócio pessoa física, e não diretamente sobre o lucro apurado pela empresa. A companhia continua pagando IRPJ e CSLL normalmente — o que muda é que o lucro distribuído acima de determinado limite também sofrerá tributação.
Para quem está no Simples Nacional, nada muda. Essas empresas estão fora da nova regra. Já sociedades maiores, que costumam distribuir valores significativos aos sócios, precisarão se organizar para absorver esse impacto.
O projeto ainda trouxe mecanismos de compensação para evitar a bitributação, limitando a carga total ao teto das alíquotas nominais: 34% para empresas em geral, 40% para seguradoras e 45% para bancos. Também ampliou a isenção do IRPF para quem recebe até R$ 5 mil por mês, medida que tende a beneficiar milhões de brasileiros.
A mensagem é clara: no Brasil, lucro distribuído não é mais sagrado. Assim como em vários países que já tributam dividendos há décadas, o Estado brasileiro quer sua fatia.
Não é o peso do imposto que derruba o cidadão, é o peso da má gestão que faz parecer roubo.
“No Brasil, imposto esquecido é lucro perdido.”
Com a aprovação da Reforma Tributária, muitos pequenos empresários ficaram em dúvida se o Simples Nacional vai acabar ou perder as vantagens que sempre teve. A boa notícia é que o Simples continua existindo, mas com algumas mudanças importantes que merecem atenção.
O Simples foi criado para descomplicar a vida das micro e pequenas empresas, reunindo vários tributos em uma única guia, o DAS. Isso não muda. A diferença é que, aos poucos, o PIS, a Cofins, o ICMS, o ISS e o IPI deixam de existir e serão substituídos por dois novos impostos:
• CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) – federal
• IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) – estadual e municipal
Esses impostos vão atingir todas as empresas, inclusive as do Simples.
A novidade é que surge a possibilidade de um regime híbrido: o empresário do Simples poderá optar por pagar o CBS e o IBS “fora” do DAS. Isso significa que ele terá direito a gerar créditos para seus clientes, algo que pode ser decisivo em alguns setores.
Na prática, o que isso quer dizer?
• Para quem vende direto ao consumidor final (padaria, salão de beleza, loja de roupas), o Simples tradicional continua sendo vantajoso. Afinal, o cliente pessoa física não aproveita crédito de imposto.
• Já para quem vende para outras empresas (B2B), pode ser que os clientes comecem a exigir nota com crédito de imposto. Nesse caso, avaliar o regime híbrido pode ser estratégico, mesmo que traga mais burocracia.
Portanto, o Simples não acabou e continua sendo uma ótima escolha para a maioria dos pequenos negócios. Mas o empresário precisa abrir os olhos: cada vez mais será importante entender quem é o cliente, como funciona sua cadeia de fornecimento e se vale a pena gerar crédito de impostos.
A reforma não tirou o Simples. Apenas deixou claro que, no Brasil, até o simples precisa ser bem planejado e não tem nada de simples.

Empreendedorismo e negócios
Empreendedor de sucesso, o colunista compartilha sua experiência e conhecimento para facilitar a vida de quem atua no mundo dos negócios